quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Volantin de Roterdam

O Volantin de Roterdam





 Bosch, que foi a sínthese clarividente do misticismo cristão nos annos que nos levam do XV ao XVI século, foi também seu melhor intérprete, porquanto se viu jamais piedoso e cordato espírito. Bosch, a que não falhava os iniludíveis deveres e responsabilidades históricas que acodem a todos os productos notáveis d´uma época, fez à estropiada espiritualidade medieva inestimável serviço, dotando-a, ou antes, lembrando-lhe, ´través as hieroglíphicas subtilezas d´um fino e requintado simbolismo, a derradeira justificação a que aspiram os justos, malgrado as abomináveis seduções entontecedoras d´um mundo ulcerado p´lo nefando bacilo do vício, toldado p´los miasmas pestíferos do Mal. O tenebroso pessimismo medievo ao mundo povoava de phantasmagorias e cavilações demoníacas, aturdido p´lo supersticioso assombro das aparições pesadelosas. A perversidade theratologica d´uma legião de anjos rebelados, coadjuvados p´la infâmia impiedosa de bruxos e theurgistas recordavam-lhe a atalaia insomne do Maligno.

 Bosch, penetrado da alta compreensão theológica d´um lídimo espírito religioso, iluminava, co´a rutilante claridade de sua sublime inteligência simbólica, a caligem impenetrável que então obnubilava a credulidade entrevada do mundo medievo. Recordava-lhes que entre os suplícios e atrocidades inomináveis dos Infernos e as delícias e êxtases celestiais havia o árduo trâmite da virtude ovante. Ante sua hesitante credulidade representou-lhes os infinitos embaraços que acodem à virtude no curso que nos leva da impiedade à santidade. Exaltou-lhes os merecimentos d´um pio existir, protestando-lhes o flagrante irrecusável d´uma verdade atroz: nós, que somos homens, fatalizados e ensombrecidos p´lo espectro ancestral do pecado, que faz a claudicação do espírito e a leviandade do querer; perpetuamente a debatermo-nos entre os extremos inacessíveis d´uma eterna impossibilidade – nós, que somos homens, portanto vulgívagos e corruptíveis, não obstante somos chamados à Perfeição. Bosch então dizia-nos, ou antes, que era pintor, invitava-nos:

 - Vai! Toma teu alforje, o teu bordão e sê Perfeito!...

 Elle o disse, antes, o pintou. E a Média Idade o não viu, ou o não escutou. O seu inestimável “Lê Voyageur”, aí, está, oferecendo à curiosidade coeva o flagrante d´uma subtil e alcandorada concepção do drama da virtude, dos deveres superiores do Homem. Bosch o concebeu como a epítome de seu mysticismo ilimitado. Fê-lo como o symbolo superior da moralidade ascética. Dotou-o dos atributos transcendentes que se advinham nas altas realizações do Gênio, nas esplêndidas criações do Espírito.

2 comentários:

Lulikas disse...

puxa incrivel!adorei aproveite e visite -->http://lulikas.blogspot.com/

um grande abraço excelente serviço.

Rogério Mansera disse...

Meu caro amigo! Não tenho palavras para expressar meu orgulho ao ler, de fato, seu texto. Espero que, assim como eu, as pessoas possam se dar ao luxo da curiosidade para entender a grandeza deste teu trabalho.